4 min

Infertilidade masculina: tudo o que precisamos de saber

Colaboração
Sabia que a fertilidade masculina tem sofrido um declínio gradual nas últimas décadas? Descubra tudo sobre a infertilidade masculina, neste artigo do especialista Dr. Luís Vicente, coordenador do Centro de Procriação Medicamente Assistida (CPMA) do Hospital Lusíadas Lisboa (HLL).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infertilidade manifesta-se por uma incapacidade de engravidar, após 12 ou mais meses de tentativas através de relações sexuais desprotegidas.  

Nos últimos anos, notícias de um declínio gradual na fertilidade masculina foram evidenciadas num estudo de 2017, no qual, um epidemiologista norte americano revelou que, desde 1973, houve um declínio de 60% na contagem total de espermatozoides. Estes dados vieram reforçar o facto da infertilidade se tratar de um problema que tanto pode ter origem feminina como masculina.

"Por essa razão, é sempre bastante importante ter na consulta de fertilidade ambos os membros do casal", aponta o Dr. Luís Vicente, Ginecologista e Coordenador do Centro de Procriação Medicamente Assistida (CPMA) do Hospital Lusíadas Lisboa (HLL). 

Porque razão existem atrasos na deteção de fatores masculinos? 

“A infertilidade é frequentemente apontada ou atribuída primeiro à mulher. E, por vezes, o facto de o homem já ter tido filhos numa relação anterior, faz com que se exclua logo a possibilidade da causa ser masculina. Isso não é verdade”, explica o médico. 

Mesmo no próprio casal, podem ocorrer dificuldades em ter um segundo filho e, quando se começa a investigar a causa, descobre-se em muitos casos, que a causa é masculina. 

Por outro lado, métodos de avaliação da fertilidade como o espermograma, que não tenham sido realizados criteriosamente, fazem com que se exclua, novamente, a causa masculina. Idealmente, o espermograma deverá ser realizado num centro que realize técnicas de fertilização in vitro, nos quais os critérios de avaliação são bastante rigorosos, visto ser necessário cumprir com os requisitos da OMS. 

Noutros casos, a mulher pode já ter sido diagnosticada com outras causas como ciclos irregulares, ovários micropoliquísticos ou endometriose. Mesmo assim, seja qual for a situação, os casais nunca devem excluir a avaliação masculina quando há dificuldade em engravidar. 

Quais são as principais causas de infertilidade masculina? 

Existem vários fatores que podem influenciar negativamente a fertilidade masculina, como por exemplo: 

- Hábitos de vida: álcool, obesidade, uso de suplementos e esteroides anabolizantes;
- Varicocelo ou dilatação e varizes das veias espermáticas;
- Infeções;
- Dificuldades da ejaculação;
- Problemas genéticos, como a síndrome de Klinefelter;
-  Quimioterapia ou Radioterapia.

Como é feita a avaliação da fertilidade masculina? 

A avaliação da fertilidade masculina passa, em primeiro lugar, pela realização de um espermograma. É feita uma contagem do número total de espermatozoides, da sua mobilidade, e das suas formas (a morfologia). 

Em 2010 a OMS atualizou os valores de referência, sendo que são apenas necessários 4% de espermatozoides com formas normais para que o espermograma seja considerado “normal”, não ultrapassando normalmente os 15 a 20%. 

Em mais de 15 milhões de espermatozoides, é normal existirem formas alteradas: 2 caudas, caudas partidas, cabeça alterada, entre outras. A OMS chegou à conclusão deste critério de normalidade, tendo em conta que a maioria dos casais com esse valor conseguiu uma gravidez no espaço de um ano num estudo realizado em todo o mundo.

Quando os valores são inferiores, é ainda possível a gravidez acontecer, mas tal acontece com menor frequência. “Só é mesmo preciso um espermatozoide para fertilizar o ovócito. Esta estatística diz-nos apenas que a probabilidade de isso acontecer é menor. Mas não é impossível”, lembra o médico. 

Há um declínio da fertilidade masculina nos últimos anos? 

Sim, de facto, tem-se verificado uma diminuição da qualidade dos espermogramas nos dadores de espermatozoides – o que pode dar-nos uma ideia do que se passa com a população em geral. 

De acordo com uma revisão de 101 estudos publicados sobre o tema, correspondentes a dados recolhidos num período de 62 anos, verificou-se um declínio na concentração média do esperma nos EUA e na Europa. A média anual de declínio foi entre 1.5% e 3.1% por ano – dados que confirmam uma tendência para o declínio na fertilidade masculina. 

Quais as principais razões deste declínio? 

O estilo de vida, a utilização de conservantes alimentares, as hormonas presentes no ambiente, bem como as radiações a que os homens estão expostos, sem o saber, são alguns dos fatores responsáveis por este declínio. 

Por exemplo, o Bisfenol A, uma substância química presente no plástico, é um disruptor endócrino. De acordo com um estudo da Universidade de Granada de 2019, este químico está presente em cerca de 90% dos tickets e recibos de impressão térmica que manipulamos todos os dias, com níveis 30 a 100 vezes superiores ao nível máximo recomendado pela Comunidade Europeia. 

É também recomendável evitar a utilização do portátil sobre as pernas, ou o uso de smartphones com o WiFi ligado no bolso das calças – isto porque está demonstrado que o WiFi provoca uma redução na mobilidade e um aumento da fragmentação do DNA dos espermatozoides, após uma exposição superior a 4 horas. 

O álcool, o sedentarismo, o tabaco, o excesso de peso e a idade podem também afetar a fertilidade masculina. 

Como prevenir e tratar a infertilidade masculina? 

Quando identificamos fatores envolvidos na infertilidade masculina, como o tabaco ou exposição a tóxicos, devemos recomendar que sejam evitados e promover hábitos de saúde saudáveis. 

Em casos em que a alteração da concentração de espermatozoides não é muito significativa, podemos conseguir a gravidez por um processo de inseminação intrauterina. Os espermatozoides são concentrados em laboratório e inseminados com um pequeno cateter no útero, na altura em que se programou, monitorizou e desencadeou a ovulação.

Se essa alteração é mais acentuada, o tratamento passa por uma forma de fertilização in vitro, a ICSI, em que se faz a microinjeção do ovócito com um espermatozoide com características normais (em laboratório).

É importante alertar a comunidade para a existência de fatores que podem prevenir a infertilidade, e cabe também à comunidade médica garantir que essa informação é partilhada com cada vez mais casais. 

O tabagismo, o álcool, o excesso de peso e a idade de quem pondera engravidar, são tudo fatores que podem ameaçar a fertilidade dos casais – e no Centro de Procriação Medicamente Assistida do Hospital Lusíadas Lisboa terá acesso aos melhores cuidados, conselhos e acompanhamento nesta que é uma fase tão importante da sua vida. 

Ler mais sobre

Infertilidade

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Dr. Luís Vicente

Dr. Luís Vicente

Hospital Lusíadas Lisboa
PT