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O antibiótico pode deixar de fazer efeito?

Colaboração
Os antibióticos são armas poderosas contra as infeções, que devem ser usadas com precaução. O consumo generalizado e a falta de rigor na toma ajudam a aumentar a resistência das bactérias e compromete a eficácia dos tratamentos no futuro, alerta Alexandra Malheiro, especialista em Medicina Interna do Hospital Lusíadas Porto.

Quando Alexander Fleming descobriu a penicilina, em 1928, estaria longe de imaginar que um dia a Medicina viria a estar preocupada com o risco da generalização do antibiótico. Mas a verdade é que, nos últimos 90 anos, a descoberta de novas substâncias e o uso inadequado dos antibióticos tem feito aumentar a resistência das bactérias, tornando cada vez mais difícil o combate às infeções.

O que está em causa 

Os antibióticos não têm qualquer efeito sobre as infeções provocadas por vírus e só são eficazes contra as bactérias, o que significa que não curam gripes e constipações. No entanto, como não existe um teste rápido que permita identificar com 100% de certeza a origem de uma infeção, face a um diagnóstico incerto, os próprios clínicos podem acabar, por vezes, por recorrer aos antibióticos. A automedicação é, no entanto, o principal problema.

Muitas vezes, a própria pessoa decide tomar um antibiótico “apenas porque existe febre ou há dores musculares - e sem fundamento médico, por decisão pessoal ou recomendação de amigo”, lamenta Alexandra Malheiro, especialista em Medicina Interna do Hospital Lusíadas Porto.

Bactérias multirresistentes 

A cada contacto com um antibiótico, as bactérias, por mutação genética ou aquisições a partir de outras bactérias, desenvolvem uma natural resistência àquela substância. Isto acontece sempre, mesmo quando em causa está o uso adequado do antibiótico. Mas é importante perceber que a generalização do consumo e a falta de rigor na toma tem permitido a aceleração do processo e o aumento da resistência aos antimicrobianos.

Como resultado, surgem as chamadas superbactérias ou bactérias multirresistentes, imunes à “ação de três ou mais antibióticos a que habitualmente seriam sensíveis”.

A dimensão do problema

As novas estirpes de bactérias multirresistentes são responsáveis, anualmente, pela morte de 700 mil pessoas no mundo (25 mil na União Europeia) e as estimativas da Organização Mundial da Saúde para o futuro não são otimistas. Se nada for feito, em 2050 poderemos estar a falar de 10 milhões de mortes por ano.

Além de ser uma ameaça para a saúde pública, a resistência aos antimicrobianos é também um problema com um grande impacto económico. Considerando o preço dos tratamentos e da quebra na produtividade, o Banco Mundial calcula um custo anual de 1,5 mil milhões de euros.

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Cuidados a ter

1. Tome antibiótico apenas quando estritamente necessário

Além do agravamento da resistência aos antimicrobianos, o consumo exagerado de antibióticos pode levar a situações de toxicidade hepática, insuficiência renal, descalcificação óssea ou dentária, surdez e até provocar a morte. Nunca tome um antibiótico por decisão própria ou conselho de outrem. Fale com o seu médico.

2. Tome sempre o antibiótico durante o tempo indicado 

A interrupção antecipada do tratamento pode ter como resultado a sobrevivência de algumas bactérias. Corre o risco de voltar a adoecer e essas bactérias ainda vivas poderão tornar-se mais resistentes, o que faz com que a infeção seja mais difícil de curar.

3. Tome o antibiótico a horas certas

Desrespeitar os horários da toma pode ter dois tipos de consequências, ambas igualmente negativas. Aumenta o risco de haver períodos em que o antibiótico não está em circulação, permitindo que as bactérias se multipliquem e ganhem resistência — ou seja, reduz a eficácia do medicamento. E, por outro lado, pode também provocar um excesso de dosagem, com perigo de toxicidade.

4. Nunca tome sobras de antibióticos

Existem vários antibióticos e cabe ao médico decidir qual o fármaco mais adequado à situação, consoante a bactéria em causa. Não é garantido que um antibiótico que já tomou uma vez volte a funcionar e muito menos que as sobras do medicamento de outra pessoa sejam eficazes no seu caso. Se, por decisão do médico, parou de tomar um antibiótico antes de chegar ao fim, entregue a caixa na farmácia.

Em suma

A cada contacto com um antimicrobiano, as bactérias vão desenvolvendo novas resistências e o risco de imunidade àquela substância em específico aumenta. O consumo exagerado de antibióticos tem levado ao aparecimento de superbactérias, resistentes a três ou mais substâncias.

Os antibióticos devem ser tomados com moderação, sempre por indicação do médico e nas dosagens e intervalos de tempo recomendados indicadas pelo especialista.

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Dra. Alexandra Malheiro

Dra. Alexandra Malheiro

Hospital Lusíadas Porto

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