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O seu filho vai de férias com os amigos?

É um dos momentos mais temidos pelos pais e, simultaneamente, um dos mais desejados pelos filhos: a primeira ida de férias só com os amigos. A ocasião é um marco na autonomia dos adolescentes, mas deve ser preparada com algum cuidado por pais e filhos. Saiba como.

O seu filho adolescente pediu-lhe para ir, pela primeira vez, de férias só com os amigos?  Uma viagem sem a segurança dos adultos é uma etapa normal de crescimento, que contribui para reforçar a autonomia e independência. No entanto, é também natural que se preocupe, que tenha dúvidas sobre o grau de maturidade do seu filho para uma viagem destas e que diversos medos o assolem.

Reflita sobre as questões práticas e, sobretudo, comunique em família. A primeira ida de férias será sempre um momento difícil para os pais. “Apesar de todo o trabalho antecipatório possível (e desejável), nada prepara devidamente os pais para estas primeiras – eu diria mesmo para todas as – saídas dos filhos do seu ‘ninho’”, reforça o pediatra Hugo Braga Tavares, coordenador do Centro Multidisciplinar do Adolescente do Hospital Lusíadas Porto, acrescentando que “os pais só descansarão quando, finalmente, os filhos regressarem a casa ‘sãos e salvos’”.

Filipa Rouxinol, psicóloga do Centro Multidisciplinar do Adolescente do Hospital Lusíadas Porto, corrobora esta visão e acrescenta que estas primeiras férias com amigos são, muitas vezes, “o primeiro momento em que os pais se confrontam com o evidente crescimento do seu filho, ou quando se torna mais clara a sua autonomização, e nem sempre é fácil”. Como proceder, então? Com muita calma, de forma realista e sempre em diálogo, avalie se a sua família está pronta para este momento e antecipe os pormenores da viagem com o seu filho.

Qual a idade certa?

Aos olhos dos pais, os filhos serão sempre eternas crianças “debaixo da sua asa”. Mas a partir de que idade é que os adolescentes têm maturidade suficiente para ir de férias com os amigos?

Apesar de não haver dois adolescentes iguais, Filipa Rouxinol acredita que “a partir dos 17/18 anos, os adolescentes já terão desenvolvido competências essenciais, as quais podemos associar à maturidade, e que lhes permitirão ir de férias com os amigos”. Mais do que guiar-se por uma idade certa, avalie estas competências essenciais no seu filho:

  • Regulação emocional

Ser capaz de tomar decisões razoáveis, seguir instruções, controlar a frustração e lidar com problemas do quotidiano;

  • Assertividade 

Poder discordar de outra pessoa, defendendo um ponto de vista sem ser desagradável;

  • Humildade

Ser capaz de reconhecer o valor dos conselhos e opiniões dos pais e dos professores;

  • Capacidade de planeamento e antecipação de consequências

Perceber o que necessita para atingir determinados objetivos, antecipando consequências positivas ou negativas.

Que viagens deve autorizar?

Mesmo que a família esteja preparada e o seu filho tenha maturidade suficiente para estas primeiras férias com os amigos, tal não significa que deva autorizar qualquer viagem. Informe-se sobre os planos do seu filho e avalie os diferentes aspetos da viagem na sua tomada de decisão. O coordenador do Centro Multidisciplinar do Adolescente do Hospital Lusíadas Porto, Hugo Braga Tavares, destaca o que deve ter sobretudo em conta:

  • O local e as condições esperadas;
  • As deslocações (de ida e volta; e possíveis deslocações diárias já no destino de férias);
  • Os amigos que vão (é importante que os pais os conheçam antes da viagem);
  • Possíveis adultos de referência, como um familiar de algum dos amigos ou mesmo um senhorio, que possa estar presente nas férias e garantir alguma supervisão;
  • Contactos (cobertura de rede, horários e números do local e contactos de emergência).

Quais os principais riscos que o seu filho enfrenta nas férias com os amigos?

Os riscos dependem, sobretudo, do tipo de viagem, da companhia e, claro está, das próprias características do seu filho. No geral, tenha presente alguns riscos reais transversais:

  • Consumo excessivo de álcool ou de drogas;
     
  • Roubos ou ameaças à integridade física;
     
  • Relações sexuais desprotegidas, com possibilidade de transmissão de infeções sexualmente transmissíveis ou gravidez indesejada;
     
  • Ceder à “adrenalina” ou à pressão do grupo, com consequentes comportamentos de risco. “É importante perceber que estes riscos existem também no dia a dia dos adolescentes, no seu ambiente familiar e/ou habitual”, destaca Hugo Braga Tavares. No entanto, a sensação de “liberdade” em férias, sem controlo parental, acaba por poder potenciar estes riscos.

Que recomendações e alertas deve dar ao seu filho antes das férias?

O ideal é que os conselhos de segurança e alertas sobre comportamentos de risco sejam temas já abordados anteriormente em família. Lembre-se que informações “debitadas como listas de compras” podem ser mal recebidas pelos adolescentes, que as veem como entediantes e paternalistas, realça Hugo Braga Tavares.

Por isso, é “muito importante apostar na discussão destes temas ainda antes de se colocar a hipótese das férias, utilizando momentos espontâneos, muitas vezes a reboque de situações do quotidiano ou que surgem nos media”. Depois de autorizar estas primeiras férias, relembre alguns conselhos de segurança ao seu filho.

Ajude-o a definir planos de resposta a diversas situações práticas que o possam colocar em risco. Faça-o “num ambiente seguro e sem distrações (como o telemóvel ou a televisão) e de uma forma calma, coerente e assertiva”, partilhando a sua própria experiência de viagens com amigos quando era adolescente ou jovem adulto, sugere ainda a psicóloga Filipa Rouxinol.

Comece por abordar estas situações de risco e deixe o seu filho explorar a forma como reagiria a cada cenário (converse com ele, não estabeleça apenas um monólogo):

  • Boleias com estranhos ou amigos que tenham ingerido bebidas alcoólicas;
     
  • Consumo de álcool e de drogas – neste ponto, é importante que converse não só sobre os riscos do consumo em si, como também sobre os riscos associados, como a compra da substância ou o risco físico pela perda de discernimento, alerta Hugo Braga Tavares;
     
  • Partilha de bebidas ou aceitar bebidas de estranhos;
     
  • Situações de risco físico associadas a “adrenalina”, como banhos em zonas não vigiadas ou desportos radicais; - Comportamentos sexuais de risco (e proteção);
     
  • Exposição prolongada ao sol, se aplicável – associada a riscos de queimaduras solares e de insolações.

Outras questões práticas a conversar com o seu filho

Aproveite estas conversas antes da viagem para abordar outras questões práticas, sugere a psicóloga Filipa Rouxinol, como: segurança pessoal em locais desconhecidos, uso de dinheiro (valor diário que vão necessitar, como guardar dinheiro de forma segura e precauções de segurança no uso do ATM), contactos de emergência (de autoridades, serviços de emergência, do local onde vão ficar alojados e de um adulto de referência), horas de comunicação (combine uma hora específica diária para comunicarem) e uso de redes sociais (sobretudo a importância de não partilhar a sua localização em tempo real).

Converse também sobre as suas expectativas em relação à viagem – e cruze-as com as expectativas do seu filho. Desta forma, conseguirá definir limites e torná-lo mais consciente de que é responsável pelas suas escolhas durante as férias – e pelas possíveis consequências. Além dos riscos e conselhos de segurança, aconselhe-o a manter boas refeições e a descansar.

Como garantir a segurança do seu filho durante as férias?

É impossível garantir, de forma absoluta, que o seu filho adolescente não correrá nenhum risco durante as férias. No entanto, esta é uma prova de confiança importante no reforço da sua autonomia – que o preparará para uma vida adulta sem a proteção dos pais. Prepare, planeie e confie. Apesar de não conseguir controlar o seu filho à distância, é possível diminuir riscos com conselhos e um planeamento adequado da viagem.

Como reforça Hugo Braga Tavares, “a melhor forma de minimizar os potenciais riscos é planear com o adolescente estratégias para os evitar, garantir linhas de contacto e, sempre que possível e desejável, ter supervisão de um adulto de referência”.

Estabeleça “uma relação segura e compreensiva, que permita uma comunicação aberta, baseada na resolução de problemas e na antecipação de consequências”, aconselha, por seu lado, Filipa Rouxinol. E, sobretudo, equilibre na balança a sua preocupação e a confiança que deposita no seu filho. Ou seja, “ao mesmo tempo que revela os seus receios, deve transmitir confiança ao adolescente de que ele será capaz de lidar de forma adequada com todas as situações que possam surgir”.

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