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Falar de sexualidade na terceira idade

Falar de sexualidade na terceira idade: não há prazo de validade para amar, nem limite para a sexualidade. Onde a idade falha, a medicina dá uma ajuda.

Falar de sexualidade na terceira idade ainda não é comum. Este é um assunto pouco abordado não só pelos próprios, como pelas suas famílias e sociedade em geral. Admitir quaisquer limitações no campo da sexualidade não é fácil para ninguém, mas os profissionais de saúde mais atentos começam a perceber qual a melhor forma de abordar, sobretudo, o tema da sexualidade na terceira idade durante o tempo da consulta.

As gerações mais velhas são aquelas que se sentem mais constrangidas perante o tema e que dificilmente sabem lidar com as limitações que a natureza lhes vai impondo. "Há um sentimento de resignação. Muitas mulheres acabam por confirmar na consulta de ginecologia que não têm atividade sexual há anos, mas revelam-se também completamente acomodadas a esse facto", constata Joaquim Gonçalves, coordenador da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Lusíadas Porto.

Sexualidade na terceira idade: tempo para falar

"Ainda há muito pudor e muita timidez em relação à sexualidade, por isso temos de ter tempo suficiente para dialogar na consulta", sublinha Joaquim Gonçalves, que rejeita atender as suas pacientes em períodos inferiores a 30 minutos. "Por vezes a privacidade que a paciente exige é perturbada até pela presença da enfermeira, pelo que temos de ser discretos e dar a entender à enfermeira que tem de sair por alguns instantes", explica.

Nos homens, o pudor é ainda maior. "Por ser um assunto delicado e íntimo, o facto de não ser explorado pelo profissional de saúde inibe o idoso de o abordar, receando que o clínico considere as questões desadequadas à sua idade ou que não tenha solução para lhe oferecer", relata Ana Peixinho, coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Lusíadas Lisboa.

Outras formas de amar

O medo de não conseguir manter uma relação sexual satisfatória, que inclua desencadear e manter a ereção, constitui o principal receio dos homens à medida que a idade vai avançando, mas o declínio da forma física e até os riscos para a saúde que a prática sexual pode representar também preocupam os mais velhos, explica a médica psiquiatra. Ana Peixinho sublinha ainda a importância de o idoso perceber que "reforçar a sexualidade envolve muitas formas de expressão e intimidade, que incluem o contacto da pele, as carícias, o beijo e outras práticas além da penetração".

A terapia hormonal de substituição

Encarada muitas vezes como a grande perturbadora da sexualidade na terceira idade, a menopausa obriga habitualmente ao confronto com alterações hormonais que se refletem não só no corpo da mulher, como também na sua mente e na sua predisposição para a atividade sexual. "Nesta fase da vida, é preciso elucidar as mulheres sobre os prós e contras da estimulação da líbido, o que por vezes passa por um prolongamento da terapêutica hormonal de substituição, a que, lamentavelmente, algumas mulheres ainda colocam muitas reservas", reconhece o ginecologista.

"Se não existirem contraindicações para a sua implementação, a terapêutica hormonal de substituição é muito benéfica para a mulher, minimizando algumas das queixas habituais desta fase da vida, nomeadamente aquelas relacionadas com insónias, má digestão e quadros depressivos. Além disso, ajuda também na prevenção da demência, da osteoporose, das patologias do cólon e da atrofia genital, causadora de situações de vaginismo, que também limitam a atividade sexual da mulher", explica Joaquim Gonçalves.

Joaquim Gonçalves lembra que os recursos de que a medicina dispõe atualmente podem, efetivamente, ajudar homens e mulheres a prolongar a sua vida sexual na terceira idade. O ginecologista não tem muitas dúvidas de que são as mulheres, ainda assim, os elementos do casal que mais falam de sexualidade com o seu médico, mantendo-se a tendência de silêncio junto da população masculina.

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