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Celulite: o que deve saber

Revisão Científica
O inestético efeito da pele “casca de laranja” não é um problema (apenas) das pessoas obesas. A celulite afeta 95% das mulheres após a puberdade e está presente também nos corpos magros, explica Cristina Resende, especialista em dermatologia do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Forum Algarve. Saiba como prevenir e o que pode esperar dos (muitos) tratamentos disponíveis.

Sabe o que é, afinal, a celulite? “A celulite consiste na deposição de gordura sob a pele, dando-lhe um aspeto irregular, ondulado, e resulta da acumulação de gordura nas camadas mais profundas da pele (hipoderme), onde as “células gordas” (adipócitos) se encontram limitadas e comprimidas por fibras de colagénio”, explica Cristina Resende, especialista em dermatologia do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Forum Algarve.

O problema afeta 95% das mulheres após a puberdade e isso deve-se principalmente a alterações hormonais. “No sexo feminino, o padrão da malha dos septos fibrosos, que se desenvolvem perpendicularmente em relação à pele, é determinado predominantemente pelo efeito dos estrogénios, a hormona feminina. Os pontos de ancoragem da pele ao músculo puxam a pele para baixo, ao passo que a camada de gordura entre eles empurra a pele para cima, formando-se um padrão de altos e baixos, semelhante ao da superfície da casca de uma laranja”, explica a médica.

Já no sexo masculino, o tecido adiposo subcutâneo possui septos de fibras de tecido conjuntivo diagonais, e não perpendiculares, mantendo a camada de gordura bem compacta, mesmo nos homens obesos. Assim, a celulite é um problema raro entre os homens. Também é importante notar que “a obesidade não é condição necessária para a sua existência e há mulheres magras que têm celulite”, sublinha a médica.

Sintomas de celulite 

A pele “casca de laranja” é sobretudo visível nas nádegas e nas coxas, embora também possa notar-se no “peito”, no abdómen e nos braços, explica a dermatologista. Nas formas mais ligeiras, as irregularidades da pele são mais ténues e “só aparecem quando se pinça a pele com os dedos ou com a contração muscular”. Nos casos mais avançados, “a pele forma irregularidades muito acentuadas, sempre visíveis, podendo até causar dor por compressão de terminações nervosas locais”.

Fatores de risco

As causas da celulite não estão completamente estudadas, mas a ciência demonstrou já que a herança genética tem um peso importante na celulite. Existem alguns fatores que aumentam a propensão para o problema e que podem ser herdados, nomeadamente relacionados com a produção de hormonas, o tipo constitucional e até hábitos alimentares. No entanto, “isso não significa que a pessoa vai obrigatoriamente desenvolver celulite”, alerta a dermatologista. Existem outros fatores de risco envolvidos, como:

 

Prevenção da celulite

“As principais medidas preventivas da celulite consistem na prática de uma alimentação saudável e de atividade física regular, medidas que devem começar a ser implementadas logo nos primeiros anos de vida”, afirma Cristina Resende. 

Cuidados a ter:

  • Evitar o consumo de açúcares, gorduras e sal;
     
  • Seguir uma dieta saudável, rica em fruta, vegetais e fibras. “As frutas e vegetais são também ótimos alimentos para combater a celulite, pois são ricos em antioxidantes, que ajudam a desintoxicar o corpo e proteger as nossas células contra os efeitos prejudiciais dos radicais livres, melhorando a aparência da pele”, explica a dermatologista;
     
  • Beber muita água e ingerir alimentos com elevado teor de água, como pepinos, rabanetes, beringelas, tomates e pimentos, para melhorar a circulação sanguínea;
     
  • Beber chá, “nomeadamente de chá de cavalinha e chá verde, pelas suas propriedades diuréticas e efeitos na melhoria da circulação sanguínea”;
     
  • Usar roupa confortável e evitar as roupas muito apertadas, que dificultam a circulação sanguínea, agravando a retenção de líquidos;
     
  • Praticar exercício físico. “O exercício cardiovascular ajuda a emagrecer, melhorando a circulação e aumenta o metabolismo celular promovendo a lipólise e o exercício de força aumenta a massa muscular, a qual consome mais energia, “queimando” mais gordura e os músculos tornam-se mais tonificados”, explica Cristina Resende. Nesse sentido, a especialista recomenda:
     
  • Exercício cardiovascular

Caminhadas, corrida, natação, ciclismo e subir escadas. A periodicidade deverá ser 5 vezes por semana durante 30 a 40 minutos.

  • Exercícios de força

Barras, máquinas e exercícios com o próprio peso corporal 3 vezes por semana, durante 15 a 30 minutos.

Diagnóstico e tratamentos

O diagnóstico da celulite é realizado apenas pela observação da pele, não sendo necessário qualquer exame complementar de diagnóstico. O tratamento, qualquer que seja a opção, “deve ser sempre acompanhado de um estilo de vida saudável e orientado por um dermatologista, que deverá selecionar a opção mais adequada, bem como a sua manutenção, em casos mais avançados, em parceria com a especialidade de cirurgia plástica”, reforça Cristina Resende.

A especialista alerta para o facto de que “a prevalência elevada da celulite tem levado a muitas tentativas de tratamentos, a maioria deles com efeitos clínicos subótimos e sem grande suporte pela evidência científica”, e explica-lhe o que pode esperar de cada um deles:

  • Tratamentos tópicos

Os tratamentos de aplicação local, que associam diversas substâncias para estimular a circulação local, diminuir a retenção dos líquidos, aumentar a firmeza da pele e auxiliar na formação do colagénio, possuem uma resposta bastante limitada e necessitam de aplicação associada a massagem.

A aplicação duas vezes por dia de um creme de retinol durante seis meses pode fornecer alguns efeitos temporários, criando uma cobertura mais espessa na pele, que pode ajudar a camuflar o aspeto de “casca de laranja”. Há ainda provas, limitadas, de que cremes com ingredientes estimulantes como a cafeína, o gengibre e chá verde podem ajudar a melhorar a circulação e quebrar o armazenamento da gordura.

  • Suplementos alimentares

Estão disponíveis muitos suplementos alimentares no mercado com diversos apelos de benefícios no combate à celulite, mas sem nenhuma comprovação científica até ao momento.

  • Massagens

O método mais disseminado é a drenagem linfática. Essas massagens podem ser realizadas manualmente ou por dispositivos desenvolvidos para obter maior rapidez, método denominado como endermologia. A massagem pode ter um efeito benéfico temporário na melhoria do fluxo sanguíneo, ativa o sistema linfático com drenagem de líquidos e estimula o tecido conjuntivo a produzir fibroblastos, dando à pele um aspeto de firmeza.

Pode ter alguns benefícios a longo prazo, embora a evidência científica atual seja limitada.

  • Laser e luz pulsada intensa

São tratamentos que propõem o recurso ao laser e à luz pulsada intensa de forma isolada, ou associados com tratamentos de massagem, vácuo, ultrassom e até mesmo vários métodos num mesmo equipamento. Esses dispositivos atuam em vários mecanismos do desenvolvimento da celulite como alterações estruturais do colagénio, microcirculação e drenagem linfática. Contudo, ainda há controvérsias sobre a sua eficácia, pois os atuais estudos científicos têm limitações, pelas diferentes metodologias utilizadas.

  • Radiofrequência

É um dos tratamentos eficazes contra a celulite, pois compacta a gordura, sem a retirar dos adipócitos e simultaneamente estimula a produção de colagénio e elastina na derme, diminuindo a flacidez cutânea. Este tratamento está indicado para todos os graus de celulite, principalmente quando está associada à flacidez, mas a eficácia a longo prazo desta modalidade de tratamento permanece por determinar.

  • Mesoterapia

É um procedimento invasivo, em que uma mistura de diferentes princípios ativos é aplicada através de injeções em vários pontos afetados. A mesoterapia vai provocar um efeito tensor na pele, o que vai estimular a produção de colagénio. Além disso, tem uma ação lipolítica, ou seja, é responsável pela degradação das células gordas armazenadas e estimula a circulação sanguínea, o que vai beneficiar a oxigenação e a eliminação de toxinas acumuladas.

Contudo, a sua eficácia não está comprovada em estudos científicos e os resultados, se existirem, são temporários.

Tratamentos cirúrgicos

  • Subcisão

Técnica cirúrgica invasiva em que é introduzida uma agulha no tecido subcutâneo, cortando os septos fibrosos da pele causadores da celulite em estádio avançado. Este processo é chamado de preenchimento autólogo, uma vez que é utilizado o tecido do corpo da pessoa como material preenchedor nas depressões. A sua eficácia a longo prazo permanece controversa.

  • Lipoaspiração

Diminui os depósitos de gordura no tecido subcutâneo, mas o seu efeito é desapontante nas componentes superficiais da gordura, como observado na celulite.

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Dra. Cristina Resende

Dra. Cristina Resende

Hospital Lusíadas Santa Maria da Feira

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