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Perturbação bipolar: dos sintomas aos tratamentos

A Perturbação Bipolar tem características próprias. Como explica Fernando Almeida, psiquiatra no Hospital Lusíadas Porto, existem diferentes tipos. Conheça-os.

A Perturbação Bipolar (PB), designada vulgarmente por doença bipolar, pode ser definida como uma patologia em que existem períodos de humor elevado, outros em que o humor é depressivo e ainda outros (episódios mistos) em que podem coexistir sintomas típicos do episódio de euforia e sintomas típicos do período depressivo.

A mudança de um estado para outro pode ser demorada ou relativamente breve. A frequência dos episódios é variável de doente para doente. Existem vários tipos de perturbação bipolar. Entre outros, perturbação bipolar do tipo I (PB I), do tipo II (PB II), e perturbação ciclotímica.

Fatores de risco para a perturbação bipolar

Os fatores de risco são múltiplos, como explica Fernando Almeida, coordenador da Unidade de Psiquiatra no Hospital Lusíadas Porto:

  • História familiar de perturbação bipolar;
  • O período pós-parto, sobretudo na fase inicial;
  • Indivíduos separados, divorciados ou viúvos têm taxas mais elevadas de PB I do que indivíduos casados;
  • Sexo feminino – a PB II parece ser mais frequente no sexo feminino;
  • Consumo de substâncias – por exemplo, a cocaína e as anfetaminas podem induzir sintomas maníacos;
  • Doenças orgânicas (tais como a patologia da tiroide, da suprarrenal, tumores cerebrais) podem induzir sintomas depressivos ou maníacos;
  • Alguns medicamentos (antidepressivos, esteroides, entre outros) podem induzir sintomas depressivos ou maníacos.
  • “Não está excluído o risco de fatores traumáticos, nomeadamente, traumatismos craneoencefálicos, poderem provocar PB”, refere Fernando Almeida.

Perturbação bipolar tipo I

Para se ter a certeza de que estamos perante um quadro clínico de perturbação bipolar tipo I é “necessário que exista um episódio maníaco, ou seja, um período distinto de humor anormal ou persistentemente elevado, expansivo ou irritável e uma atividade ou energia dirigida a objetivos, anormal e persistentemente aumentada, com duração de, pelo menos, uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias, ou qualquer duração se for necessária a hospitalização”, esclarece o médico.

Durante este período de alteração do humor e aumento da energia ou atividade, Fernando Almeida afirma que podem estar presentes três ou mais dos seguintes sintomas (4 se o humor é apenas irritável):

  • Autoestima aumentada ou grandiosidade;
  • Diminuição da necessidade de dormir;
  • Falar mais do que o habitual ou pressão para continuar a falar;
  • Fuga de ideias ou experiência subjetiva de aceleração do pensamento;
  • Distratibilidade relatada ou observada;
  • Aumento da atividade dirigida a objetivos ou agitação psicomotora;
  • Envolvimento excessivo em atividades com potencial elevado para consequências desagradáveis como, por exemplo, efetuar negócios insensatos, gastos desenfreados, ter comportamentos sexuais inapropriados, entre outros.

Impacto da perturbação bipolar tipo I

O quotidiano pode ser difícil para quem sofre ou convive com a doença bipolar tipo I: como descreve o psiquiatra, “a alteração do humor é suficientemente grave para provocar um défice marcado no funcionamento social ou ocupacional, ou para o doente necessitar de hospitalização para prevenir danos para o próprio ou outrem, podendo provocar episódios com características psicóticas”.

Perturbação bipolar tipo II

Neste tipo de perturbação, o episódio de humor expansivo é menos grave, razão pela qual se designa por hipomaníaco. “O diagnóstico de PB II acontece quando está presente, pelo menos, um episódio hipomaníaco e um episódio depressivo major. Este último tem de persistir durante o período de pelo menos duas semanas”.

Os sintomas de depressão major incluem cinco ou mais dos seguintes (pelo menos um dos sintomas é humor depressivo ou perda do interesse ou do prazer):

  • Humor depressivo a maior parte do dia, quase todos os dias;
  • Diminuição do interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades, durante a maior parte do dia, quase todos os dias;
  • Perda de peso, quando não está a fazer dieta, ou aumento de peso significativo;
  • Insónia ou hipersónia quase todos os dias;
  • Agitação ou lentificação psicomotoras quase todos os dias;
  • Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
  • Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os dias;
  • Diminuição da capacidade de pensar ou concentrar-se, ou indecisão quase todos os dias;
  • Pensamentos recorrentes acerca da morte, incluindo-se ideação suicida recorrente, com ou sem plano específico de cometer suicídio, ou uma tentativa de suicídio.

Impacto da perturbação bipolar tipo II

Para a pessoa, as consequências podem ser muito nefastas: “Os episódios hipomaníacos são muito perturbadores, embora não tanto como os episódios maníacos, mas os episódios depressivos major podem provocar um mal-estar clinicamente significativo ou défice no funcionamento social, ocupacional ou noutras áreas importantes do funcionamento.”

Perturbação Ciclotímica

Trata-se de uma “forma menos grave de perturbação do humor em que, pelo menos durante dois anos (um ano se crianças ou adolescentes), existiram numerosos períodos com sintomas depressivos ou hipomaníacos, mas que não preencheram critérios para episódio depressivo major ou hipomaníaco”, esclarece Fernando Almeida.

Quando pedir ajuda médica?

O médico aconselha a pedir ajuda especializada quando “as alterações de humor forem significativas, traduzindo uma alteração significativa relativamente ao que era o humor ou o comportamento daquela pessoa.

Na eventualidade de o doente já ter tido episódios anteriores, o recurso a ajuda médica pode e deve ser ainda mais rápido. De acordo com Fernando Almeida, as alterações evidenciadas pelos doentes podem ser inúmeras:

  • Alterações comportamentais a traduzirem ausência do sentido das distâncias e da noção das conveniências numa pessoa anteriormente adequada e que, inclusive, podem chegar à agitação psicomotora, ou a traduzirem dificuldade da marcha, apatia, abulia, fadiga, etc.;
  • Comportamentos sexuais inadequados e não esperados para aquela pessoa;
  • Alterações emocionais excessivas e inadequadas (fase maníaca) ou manifestações de sofrimento no doente depressivo;
  • Alterações alimentares, mais frequentemente, a traduzirem diminuição do apetite;
  • Alterações do sono, mais frequentemente, insónia;
  • Rendimento profissional muito inferior ao habitual, o que se pode dever às consequências da depressão (lentificação, falta de energia, desmotivação, falta de prazer, etc.) ou da mania (incapacidade de se concentrar nas tarefas, avaliação inadequada das situações, irresponsabilidade, etc.);
  • Nos doentes que padecem de depressão major, o comportamento suicida é um risco que não deve ser negligenciado.

Estes episódios podem perturbar imenso a qualidade de vida dos doentes e daqueles que lhes são próximos. “Devemos atuar com urgência de modo a prevenir as consequências destas crises as quais, sem tratamento, podem prolongar-se por semanas, meses, não raramente por mais de um ano”, salienta o médico.

Como tratar a doença bipolar

O tratamento farmacológico passa pela redução e controlo dos sintomas associados à mania/hipomania e depressão major. Fernando Almeida reforça que “pode ainda ser importante um tratamento psicoterapêutico e a resolução de aspetos da vida da pessoa e que interferem na evolução da sintomatologia apresentada”.

  • Mania/hipomania

É tratada com antipsicóticos, sedativos, nomeadamente, ansiolíticos, hipnóticos, e medicamentos que são mais utilizados na prevenção das crises da PB (lítio e anticonvulsivos), embora um ou outro seja utilizado, também, na fase aguda. “Alguns antipsicóticos são utilizados como preventivos, sobretudo da mania/hipomania”, refere Fernando Almeida.

  • Depressão major

O tratamento envolve a toma de antidepressivos, sedativos, nomeadamente, ansiolíticos, hipnóticos e, eventualmente, antipsicóticos.

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Prof. Dr. Fernando Almeida

Prof. Dr. Fernando Almeida

Coordenador da Unidade de Psiquiatria

Hospital Lusíadas Porto

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