5 min

Hemorroidas: 10 factos e mitos

As hemorroidas estão associadas ao cancro? São provocadas pela gravidez? O tratamento é doloroso? João Araújo Teixeira, cirurgião do Hospital Lusíadas Porto e professor universitário, esclarece estas e outras dúvidas.

Todos temos hemorroidas: vasos sanguíneos localizados na parte distal do reto ou do ânus, que tem uma função na continência anal. Mas de que é que falamos quando nos referimos à doença? Quando é que as hemorroidas se tornam um problema de saúde?

“Quando há dilatações desses vasos, resultante do aumento de pressão nas veias ou de uma fragilidade nos tecidos do ânus, que podem inflamar, sangrar, causar dor e prurido estamos perante a doença hemorroidária [que na linguagem comum é referida apenas como hemorroidas]”, clarifica o médico João Araújo Teixeira, do Hospital Lusíadas Porto e da Clínica Lusíadas Gaia. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 50% da população mundial apresentará sintomas relacionados com esta patologia em alguma etapa da vida.

“É a manifestação clínica mais frequente da região anal representando 50% dos doentes que procuram uma consulta da especialidade”, diz o cirurgião. Há três tipos de hemorroidas:

Hemorroidas internas

Ocorrem dentro do reto inferior, acima do ligamento de Parks (rede fibromuscular);

Hemorroidas externas

Que ocorrem distalmente ao ligamento de Parks e que ocorrem fora da margem anal;

Hemorroidas mistas

Combinação entre as hemorroidas internas e as externas. Com a ajuda de João Araújo Teixeira, aprenda a distinguir factos e mitos sobre a doença. Está associada à obstipação? Pode ser sinal de uma doença oncológica? Saiba mais.

1. As hemorroidas provocam sempre dores.

Falso. Nem sempre há dor associada às hemorroidas. Antes de mais, importa distinguir entre desconforto e dor anal. “A maioria dos doentes queixa-se de desconforto anal, um sintoma diferente de dor que geralmente está sempre presente.

Já a dor anal está associada aos casos mais avançados da doença hemorroidária e suas complicações, e depende de vários fatores, nomeadamente do tipo de hemorroidas, do tempo de evolução e da alimentação (o que comemos condiciona a consistência e a dureza das fezes),” explica o médico João Araújo Teixeira.

As hemorroidas internas, adianta, são menos sintomáticas do que as externas e, muitas vezes, manifestam-se apenas pela hemorragia anal que ocorre quando a pessoa evacua. “Por outro lado, a trombose hemorroidária que está bastante associada às hemorroidas externas é uma complicação frequente em que a pessoa normalmente refere uma dor muito incomodativa, devido à inflamação e ao edema.”

2. Não há uma causa única que explique o seu aparecimento.

Verdadeiro. As hemorroidas são provocadas por vários fatores, mas não existe consenso médico sobre a sua origem exata. Ainda assim, sabe-se que estes são os fatores de risco mais comuns:

  • Histórico familiar;
  • Gravidez (a pressão exercida na região pélvica e o aumento da pressão intra-abdominal poderá provocar uma dilatação das estruturas vasculares no reto inferior e ânus, principalmente na fase final da gestação);
  • Obesidade;
  • Esforço de evacuação;
  • Obstipação ou diarreia crónica;
  • Envelhecimento; 
  • Sedentarismo;
  • Dieta baixa em líquidos e fibras;
  • Parto;
  • Uso inadequado de laxantes;
  • Consumo de comida picante, álcool e cafeína.

3. Os idosos estão mais vulneráveis ao aparecimento de hemorroidas.

Verdadeiro. “É mais comum o aparecimento da doença hemorroidária com o envelhecimento, devido à perda da elasticidade dos tecidos e à rutura dos elementos estruturais de sustentação que ocorrem naturalmente”, diz o médico, acrescentando que a incidência da doença é semelhante entre homens e mulheres.

4. As hemorroidas podem evoluir para cancro.

Falso. “São duas doenças completamente distintas, não havendo qualquer relação entre elas”, garante João Araújo Teixeira. Apesar da diferenciação podem, no entanto, apresentar sintomas semelhantes. “Estes sintomas devem ser investigados por um médico especializado no tratamento das doenças do foro colo-proctológico, não devendo a pessoa, como acontece muitas vezes, automedicar-se, nem aceitar medicações sem fazer os exames auxiliares de diagnóstico indispensáveis para despiste da causa dos sintomas.”

5. A obstipação intestinal contribui para o aparecimento de hemorroidas.

Verdadeiro. A obstipação crónica pode ser um fator precipitante para o aparecimento de doença hemorroidária, o que não quer dizer que todos os pacientes com obstipação crónica desenvolvam obrigatoriamente a doença. A obstipação é um dos sintomas, mas há outros como:

  • Sangramento (vermelho vivo, durante ou após a evacuação);
  • Dor (geralmente quando há trombose ou inflamação da hemorroida);
  • Prolapso;
  • Ardência anal associada à ingestão de certos alimentos;
  • Prurido anal;
  • Excreção de muco;
  • Incontinência fecal (em casos avançados).

6. Ficar muito tempo sentado na sanita provoca hemorroidas.

Falso. “Não é o ato de ficar sentado que pode originar o problema, mas sim o hábito, que as pessoas obstipadas têm, de permanecer muito tempo na sanita, fazendo grande esforço para evacuar, e provocando dessa forma um aumento da pressão dos vasos hemorroidários que pode originar hemorragia anal (anurragias). Em alguns casos, as hemorroidas internas prolapsam e exteriorizam-se”, diz João Araújo Teixeira.

O especialista alerta para a importância de manter uma alimentação saudável: a obstipação está normalmente relacionada com a reduzida ingestão de líquidos e de fibras. “Deve ser dada atenção primordial à mudança de hábitos dietéticos, não só para prevenção, como para o sucesso do tratamento da doença.”

7. Quem sofre de hemorroidas pode praticar exercício físico.

Verdadeiro. “Com exceção das pessoas com doença hemorroidária avançada, o exercício físico é recomendável, pois ajuda a fortalecer os músculos da região perianal e a aliviar os sintomas.” Por outro lado, quem tem a doença em estado avançado, e sofre de hemorragias e dores frequentes, não deve praticar atividade física que implique esforço, como musculação ou levantamento de pesos. “Pode agravar o seu estado, uma vez que o esforço em excesso promove um aumento da pressão nas veias da região anal”, clarifica o especialista.

8. As hemorroidas não estão associadas a outras doenças anais.

Falso. “A doença hemorroidária está comummente associada a outras doenças anais, como as fissuras anais, fístulas anais, papilites, criptites, prolapsos, ou até pólipos inflamatórios reacionais. Há ainda outras doenças mais raramente associadas às hemorroidas como os condilomas anais, a doença de Crohn e os tumores”, esclarece.

9. O tratamento é doloroso e prolongado.

Falso. O tratamento cirúrgico pode ser realizado em regime de ambulatório, com alta ao fim de 4 a 6 horas, ou em regime de internamento de 24 horas. “Ao contrário do que sucedia, hoje o pós-operatório é menos doloroso, e com menos complicações. Sabe-se muito mais sobre a fisiopatologia da doença.

As técnicas cirúrgicas também foram aperfeiçoadas”, garante o médico. Segundo João Araújo Teixeira, a técnica mais avançada é a cirurgia com laser, que encerra termicamente as veias que estão a promover o crescimento anormal dos vasos sanguíneos. Permite melhor cicatrização, provoca menos dores e menos sangramentos no pós-operatório. É um procedimento minimamente invasivo e tem uma taxa de sucesso entre 85 e 90%.

“No entanto é importante e relevante dizer que a técnica com laser pode não ser a mais apropriada e indicada para todas as pessoas”, diz o médico, referindo a importância de avaliar cada caso para definir a técnica cirúrgica ou o tratamento médico mais adequado.

10. É possível prevenir o aparecimento de hemorroidas.

Verdadeiro. João Araújo Teixeira deixa alguns conselhos: - Regularize os seus hábitos intestinais e ingira regularmente fibras e líquidos (2 a 3 litros por dia);

  • Evite alimentos picantes ou bebidas (álcool e cafeína) que possam irritar o reto e o canal anal;
  • Procure manter um estilo de vida ativo e evite fazer viagens longas de automóvel;
  • Se tiver de usar laxantes, opte pelos que não são irritativos;
  • Trate da obstipação;
  • Procure ter bons hábitos de higiene anal (banhos de assento após as dejeções);
  • Faça exercício físico.  

Este artigo foi útil?

Revisão Científica

Prof. Dr. João Araújo Teixeira

Prof. Dr. João Araújo Teixeira

Hospital Lusíadas Porto
PT