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Entorse do tornozelo: fatores de risco e tratamento

Colaboração
Todos os dias, mil portugueses sofrem uma entorse do tornozelo. É a lesão musculoesquelética mais comum e não afeta apenas os atletas, alerta Paulo Amado, coordenador da Unidade de Medicina Desportiva do Hospital Lusíadas Porto. Em 10% dos casos, a lesão deixa sequelas e a avaliação médica é essencial.

O que é a entorse do tornozelo?

“A entorse é a distensão dos tecidos moles, nomeadamente ligamentos, tendões ou cápsula articular do tornozelo”, explica Paulo Amado, coordenador da Unidade de Medicina Desportiva do Hospital Lusíadas Porto. A entorse do tornozelo resulta de um movimento traumático, provocado por uma rotação anómala do tornozelo na sequência de um salto, uma queda num buraco ou qualquer desequilíbrio brusco ao pisar piso irregular (aquilo a que vulgarmente se chama “pôr o pé em falso”).

Na maioria das situações, trata-se de um problema ligeiro mas, nos casos mais graves, a entorse do tornozelo pode implicar uma luxação, ou seja, o estiramento ou rutura dos ligamentos do tornozelo (que são estruturas elásticas), e pode até fazer-se acompanhar de pequenas fraturas ósseas.

Tipos de entorse

Além da estrutura óssea — constituída pela tíbia, fíbula e talus — o tornozelo é também composto por tendões e ligamentos que são, no seu conjunto, responsáveis pela manutenção da estabilidade do pé.

Quando há rotação extremada do membro, esse movimento repentino pode provocar uma lesão ligamentar lateral (quando o pé vira demasiado para fora) ou uma lesão ligamentar medial (quando, ao contrário, o pé vira para dentro).

A segunda situação é, porém, muito rara. “No tornozelo, 97% das lesões afetam os ligamentos laterais externos. A anatomia do pé precipita mais esse tipo de entorse”, explica Paulo Amado.

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Fatores de risco e prevenção

Há alguns fatores congénitos que favorecem a entorse do tornozelo, nomeadamente a diferença de comprimento entre as duas pernas ou a maior fragilidade dos ligamentos (clinicamente chamada laxidez ligamentar).

Além disso, existem fatores de risco externo, ligados à prática de desportos com movimentos de impacto, saltos e rotação, que colocam maior pressão sobre o tornozelo, como o basquetebol.

Em qualquer dos casos, a prevenção passa pelo uso de ortóteses elásticas estabilizadoras do tornozelo e a “aquisição de movimentos de defesa automáticos, aprendidos muitas vezes em treinos específicos”, explica o médico. Para a maioria dos atletas tal não será uma novidade, chamam-se mesmo exercícios de prevenção.

Sintomas

A entorse do tornozelo faz-se quase sempre acompanhar de um som de estalido e/ou sensação de rutura de tecidos, de maior ou menor intensidade consoante a gravidade da lesão. Depois, no imediato ou nas horas seguintes, os sintomas mais comuns são:

  • Sensibilidade ao toque;
  • Dor;
  • Inchaço local, sob a forma de edema (acumulação de líquidos) e/ou hematoma (acumulação de sangue);
  • Vermelhidão e aumento da temperatura da zona;
  • Dificuldade em andar ou mesmo em ficar de pé.

Diagnóstico

A entorse do tornozelo é a lesão musculoesquelética mais comum. Todos os dias afeta uma em cada dez mil pessoas em todo o mundo, uma estatística que adaptada à realidade do país significa que mil portugueses sofrem uma entorse do tornozelo a cada dia que passa, afirma Paulo Amado.

Destas, “10% das entorses vão desenvolver complicações, causando dores crónicas ou até entorses de recidiva”, explica Paulo Amado. A avaliação clínica do caso é, por isso, essencial. “Todos os dias nos deparamos com casos de pequenas fraturas do médio pé e outras lesões que não foram diagnosticadas”, alerta o especialista.

Em ambiente hospitalar, além da observação, o médico pode recorrer a meios complementares de diagnóstico: “A radiografia é quase sempre necessária e, nos casos em que se justifica, pode igualmente ser pedida uma ressonância magnética”, descreve o coordenador da Unidade de Medicina Desportiva do Hospital Lusíadas Porto. O raio-X procura identificar possíveis fraturas, a ressonância magnética permite avaliar com maior precisão o impacto da lesão nos ligamentos, nos tendões e na cápsula articular do tornozelo.

Tratamento

O tipo de lesão em causa e a gravidade das lesões envolvidas na entorse do tornozelo determinam o tipo de tratamento. Apenas a presença de lesões secundárias, nomeadamente fraturas, pode justificar o recurso à imobilização com gesso.

Por norma, o tratamento inclui apenas repouso, aplicação de gelo, recurso a ortóteses, uso temporário de canadianas e fisioterapia (para obter uma cicatrização adequada, com boa elasticidade dos ligamentos) — e a recuperação demora seis semanas. Só para os casos de entorse crónica, quando a fragilidade da zona torna as lesões muito frequentes, se considera uma intervenção mais invasiva. “Aí sim, em muitos casos o tratamento é cirúrgico. Acontece com frequência em atletas de alta competição, com uma taxa de sucesso grande”, comenta Paulo Amado.

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Prof. Dr. Paulo Amado

Prof. Dr. Paulo Amado

Coordenador da Unidade de Ortopedia e Traumatologia

Hospital Lusíadas Porto
Hospital Lusíadas Santa Maria da Feira
Hospital Lusíadas Vilamoura
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