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O que sabe sobre sífilis? 10 factos e mitos

Uma doença que pode evoluir durante anos de forma assintomática, mas muito contagiosa e que afeta cada vez mais portugueses. A especialista em Medicina Interna do Hospital Lusíadas Porto, Ofélia Afonso, esclarece algumas ideias erradas sobre a sífilis.

Para começar, alguns factos sobre a sífilis: desde os anos 80 e 90, o número de infetados tem aumentado a nível mundial. Segundo a Direção-Geral da Saúde, as notificações, no nosso País, passaram de 179, em 2010, para 367, em 2014. E a maior incidência de novos casos ocorre no sexo masculino (cerca de 6 vezes mais que no sexo feminino), no grupo etário dos 25-34 anos e nos homens que fazem sexo com homens.

A mudança nos hábitos sexuais e o aparecimento da infeção por Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH), tem levado à oscilação destes valores. Esta doença infeciosa, de transmissão sexual e vertical (de uma grávida para o feto, em qualquer fase da gestação), pode originar vários sintomas, dependendo da fase da doença, podendo inclusivamente ser completamente assintomática (sífilis latente). Habitualmente, como primeiro sintoma surge o "cancro duro", uma úlcera indolor no local de inoculação – mais frequentemente nos órgãos genitais, mas pode surgir noutros locais.

É uma lesão muito contagiosa, que mesmo sem tratamento, se cura espontaneamente em 3 a 6 semanas. Por vezes, das úlceras podem surgir escorrências anormais ou um aumento dos gânglios linfáticos (adenopatias).

Muitas vezes esta primeira lesão não é detectada e o diagnóstico ocorre na fase de sífilis secundária (quando surge um exantema cutâneo – uma erupção na pele –, febre, dores de cabeça, poliadenopatias – doenças que atingem várias glândulas ou gânglios em simultâneo). Também nesta fase a doença é contagiosa.

Depois desta introdução, vamos então falar sobre algumas ideias associadas à sífilis, já que há várias noções erradas sobre esta doença. Consegue identificá-las? As respostas são de Ofélia Afonso, especialista em Medicina Interna do Hospital Lusíadas Porto.

1. A sífilis é transmitida por um vírus

Falso. A sífilis é transmitida pela Treponema pallidum (uma bactéria da família espiroquetas, tal como outras bactérias, responsáveis por outras, como a bouba, uma maleita de pele mais comum nos países tropicais, ou a doença de Lyme, por norma transmitida por uma picada ou ainda a leptoespirose, transmitida pelo contacto com urina de animais infetados).

2. Só há infeção por via sexual

Falso. A sífilis pode ser transmitida por via transplacentar, da grávida para o feto, em qualquer altura da gestação e em qualquer fase da doença materna. A forma de o evitar é a realização de rastreio sistemático a todas as grávidas e do tratamento antibiótico eficaz dos casos diagnosticados.

Em Portugal, faz parte do conjunto de exames a realizar sistematicamente numa consulta pré-natal o teste serológico não treponémico VDRL, feito no sangue da mãe e sem riscos.

3. O contágio por via sexual ocorre apenas através de úlceras nos órgãos sexuais masculinos e femininos

Falso. A sífilis transmite-se através do contato direto com as lesões ulceradas das fases precoces e que são muito contagiosas por possuírem grande quantidade de bactérias. Mas estas lesões, que são indolores, podem surgir em locais não facilmente visíveis e não apenas nos órgãos sexuais masculinos ou femininos externos.

 4. O contágio pode ocorrer durante o sexo oral

Verdadeiro. No caso do sexo oral desprotegido, pode ocorrer o contágio se existir uma úlcera na boca (lábios, língua, palato, faringe pavimento da boca, por exemplo).

5. A sífilis é uma doença crónica

Falso. Não é uma doença crónica, embora as lesões da sífilis terciária possam deixar sequelas – como a aortite (uma inflamação da aorta).

6. A sífilis pode ser mortal

Verdadeiro. Quando não diagnosticada e tratada precocemente, a sífilis evolui para formas tardias com envolvimento potencial de órgãos vitais (como o coração e o sistema nervoso central) podendo causar complicações graves e, até mesmo, a morte. A sífilis congénita pode levar à morte do feto/recém-nascido.

 7. Tal como no VIH, o leite materno pode ser uma forma de transmissão da sífilis.

Falso. Além da transmissão por via sexual, existe apenas o contágio vertical (da grávida para o feto).

8. Um paciente com sífilis tem maior probabilidade de contrair VIH

Verdadeiro. É cerca de quatro vezes mais provável, porque a barreira cutâneo-mucosa está alterada pelas úlceras mas também porque a resposta inflamatória estimula o sistema imunitário e a replicação do VIH.

9. A sífilis é tratada apenas por penicilina, o que significa que quem é alérgico não tem terapêutica disponível

Falso. Nos casos de alergia documentada à penicilina, existem outras opções terapêuticas.

10. A neurosífilis – que afeta o sistema nervoso central – só ocorre na fase tardia da doença (isto é, se se presume que a infeção ocorreu mais de 12 meses antes)

Falso. Pode ocorrer em qualquer estadio, revestindo-se de manifestações diferentes de acordo com a fase e a área envolvida. Pode ser assintomática ou surgir sob a forma de uma meningite aguda, uma alteração sensitiva-motora ou demência.

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