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Sarampo: mais vale prevenir

O sarampo é uma doença contagiosa, potencialmente grave, mas possível de prevenir. Portugal já não pode garantir a imunidade de grupo e a vacinação é ainda mais importante.

O que é

O sarampo é uma doença viral, altamente contagiosa, que se transmite por via aérea, através das gotículas ou aerossóis projetados pela pessoa infetada, nomeadamente quando esta espirra ou tosse.

Apesar de se tratar habitualmente de uma doença benigna, podem surgir quadros clínicos de maior gravidade, com envolvimento do sistema nervoso central (encefalite) ou dos pulmões (pneumonia). Em casos extremos, o sarampo pode matar. Em 2017, em todo o mundo, morreram 110 mil pessoas devido a complicações causadas pelo sarampo.

Sintomas

Sensação de mal-estar geral e febre são os primeiros sinais da doença e aparecem por regra dez a 12 dias após o contacto com o vírus. Quase em simultâneo surge inflamação da membrana mucosa das vias respiratórias superiores acompanhada de corrimento nasal (rinorreia), tosse, e conjuntivite (inflamação ocular).

Podem ainda surgir pontos brancos no interior da bochecha, um a dois dias antes da erupção cutânea. As bem conhecidas manchas vermelhas na pele começam por aparecer no rosto, mas rapidamente alastram para o tronco e membros; duram quatro a sete dias e fazem-se acompanhar de febre alta e prostração.

Contágio                    

O sarampo é uma doença que apenas se transmite entre humanos e, por regra, o período de contágio é de oito dias — inicia-se quatro dias antes da erupção cutânea e termina quatro dias depois. No entanto, em doentes imunocomprometidos, o período de contágio poderá ser superior.

Grupos de risco

O sarampo tem maior gravidade potencial quando estão em causa crianças até cinco anos e adultos com mais de 20 anos, aumentando o risco entre mulheres grávidas e outras pessoas com o sistema imunitário comprometido.

Nos países com altas taxas de vacinação, como é o caso de Portugal, os profissionais de área da saúde, trabalhadores de portos e aeroportos e de hotelaria apresentam maior possibilidade de contrair sarampo, devido à maior exposição a indivíduos de países que não adotam a mesma política de controlo da doença.

Tratamento

A maioria das pessoas recupera por si própria, apenas com o tratamento dos sintomas. Os antibióticos não são eficazes contra o vírus, mas podem ser necessários quando ocorrem complicações secundárias, como uma pneumonia.

Prevenção

A única forma de prevenir o sarampo é através da vacinação.“O sarampo é uma doença contagiosa, potencialmente grave, com uma taxa de complicações elevada, e que só é prevenida através da vacinação”, explica João Rosa. Para o especialista, é ainda importante sublinhar que “não há qualquer ligação entre a vacina e o autismo” e que “os benefícios superam largamente os potenciais riscos”.

Em Portugal, o Programa Nacional de Vacinação (PNV) prevê para as crianças a administração gratuita de duas doses da vacina contra o sarampo, parotidite epidémica e rubéola (VASPR): aos 12 meses e aos cinco anos.

As exceções estão relacionadas com situações de contacto com pessoas com diagnóstico de sarampo ou viagem para áreas onde existam surtos e/ou menor cobertura de vacinação. Neste caso, está recomendada a administração de uma dose de vacina VASPR entre os seis e os 12 meses ou a antecipação da segunda dose, após avaliação clínica e por indicação do médico.

Nos adultos sem historial credível da doença, é recomendado que os nascidos depois de 1970 tenham pelo menos uma dose da vacina. No caso dos profissionais de saúde, pelo risco acrescido de contágio, a recomendação é de duas doses.

A referência ao ano de 1970 está relacionada com os resultados do Inquérito Serológico Nacional 2015/2016, citado na página da Direção Geral da Saúde, segundo o qual 99% da população nascida antes de 1970 tem proteção contra o sarampo porque teve a doença.

Sarampo em Portugal

Em Portugal, foram detetados 162 casos de sarampo em 2018, um número cinco vezes superior ao do ano anterior. Mas, na opinião do Coordenador da Unidade de Pediatria do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Forum Algarve, coexistem vários fatores que ajudam a explicar estes números. “A vacina contra o sarampo foi introduzida em 1973, com uma campanha de vacinação dirigida a todas as crianças com menos de cinco anos, sendo inicialmente preconizada uma dose única”, informa.

E como só em 1990 se reconheceu a necessidade de administrar uma segunda dose, “entre os nascidos entre 1968 e 1990 haverá um número razoável de pessoas que não desenvolveu imunidade a longo prazo e é suscetível à doença”.

Este facto explica o grande número de casos de sarampo que ocorreu em 2018 — uma grande proporção ocorreu em profissionais de saúde vacinados na infância com uma única dose.

Por outro lado, nos últimos anos, “Portugal tem recebido um grande número de imigrantes ou visitantes provenientes de países com baixa cobertura vacinal, que importam o vírus.”  E, além disso, a perda da imunidade de grupo por diminuição da taxa de cobertura vacinal, abaixo dos 95% em várias zonas do país, pode também ajudar a explicar o aumento do número de casos registado.

Imunidade de grupo

“Quando numa determinada população existe um número suficiente de indivíduos vacinados para determinada doença, mesmo que alguém com a doença entre de novo nessa população, o facto de a maioria das pessoas estar imunizada e protegida impede a circulação do agente infecioso, protegendo assim os não imunizados, por exemplo as crianças no primeiro ano de vida, antes da primeira dose da vacina”, explica João Rosa.

No caso do sarampo, a taxa de cobertura necessária para que exista imunidade de grupo é de 95 a 98% — números que Portugal chegou a conseguir atingir, mas que já não se verificam, especialmente em certas zonas do país, com regiões onde as taxas de cobertura vacinal são de 85-90%.

“É nesta diminuição da taxa de cobertura vacinal e, portanto, da imunidade de grupo, que têm especial peso as recusas vacinais por parte de pais pseudoinformados que, além de não protegerem os seus filhos individualmente, prejudicam a comunidade onde estão inseridos ao facilitarem a circulação do vírus”, lamenta o especialista.

De acordo com o referido Inquérito Serológico Nacional 2015/2016, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, e em que participaram 4.866 pessoas, a seroprevalência (proporção de casos de infeção por certo agente patogéniconuma determinada população, medida através de exames ao soro sanguíneo)para o vírus do sarampo situa-se nos 94,2%.

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