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Como lidar com a rinite

Colaboração
O nariz sempre a pingar e espirros constantes podem não ser uma constipação, mas sim uma rinite.

A sensação de estar constantemente constipado, com o nariz a fungar e sempre com espirros pode afinal ter outro nome: rinite persistente. Esta doença inflamatória do nariz afetará cerca de um quarto (22%) dos portugueses, de acordo com o Inquérito Nacional de Prevalência de Asma, de 2010. E tem manifestações muito idênticas nas rinites alérgicas e não alérgicas, que se distinguem pela preponderância de um ou de outro sintoma. Aprenda a distingui-las.

Principais sintomas 

  • Espirros;
  • Rinorreia (vulgarmente chamada de “pingo”);
  • Prurido nasal (comichão) e que, muitas vezes, é acompanhado de prurido a nível ocular (quando se associa conjuntivite à rinite alérgica) ou na orofaringe, palato (céu-da-boca), ouvidos;
  • Obstrução nasal (nariz entupido).

Estes sintomas têm maior preponderância e importância conforme o tipo de rinite.

Rinite alérgica

Na rinite alérgica, os espirros, a rinorreia e o prurido estão sempre presentes. A obstrução nasal, embora mais intensa nas rinites não alérgicas, pode surgir associada aos outros sintomas e ocorre como consequência da inflamação da mucosa nasal.

Rinite não alérgica

A obstrução é mais importante na rinite não alérgica, e nestes casos o risco desta obstrução aumentar ocorre em doentes mal orientados, incorretamente tratados, em muitos casos automedicados com vasoconstritores. Estes fármacos aliviam temporariamente a congestão nasal mas podem ter efeito prejudicial no sentido de aumentar a obstrução quando o tratamento é feito indiscriminadamente. Nestes casos, apesar do alívio imediato, o medicamento acaba por ter o efeito contrário.

Estes fármacos podem ser usados de forma controlada no início do tratamento tanto das rinites alérgicas como das rinites não alérgicas quando ambas cursam com obstrução nasal, por períodos de 3 a 4 dias permitindo, nestas situações, uma maior eficácia da medicação adequada prescrita.

Causas da rinite

Raramente as causas das rinites estão isoladas, podendo ter várias causas, explica a imunoalergologista Josefina Cernadas, do Hospital Lusíadas Porto:

  • Rinite alérgica

A rinite alérgica pode surgir devido a exposição e alergia a pólenes, a ácaros do pó da casa, fungos ou a faneras de animais – por exemplo, alergia a pelo de gato e cão;

  • Rinite vasomotora

A rinite vasomotora surge quando o nariz reage de forma exagerada às diferenças substanciais e súbitas de temperatura; cheiros intensos, ar condicionado, poluição atmosférica;

  • Rinite medicamentosa

A rinite medicamentosa pode ocorrer quando o doente tem uma intolerância a um medicamento (como, por exemplo, à aspirina) e ao tomá-lo pode ter manifestações de rinite (e também de asma);

  • Rinite devido a polipose nasal

A rinite devido a polipose nasal, com queixas de obstruções nasais muito marcadas que impedem muitas vezes a respiração nasal do doente. Com tratamento médico pode reduzir-se o tamanho dos pólipos, mas não raramente estes doentes têm de ser operados.

Fatores de risco

  • Genéticos

Uma criança cujos pais têm rinite alérgica tem uma maior probabilidade desenvolver rinite. E mesmo quando apenas um dos pais tem rinite, a probabilidade é maior do que a da população geral.

  • Ambientais

A exposição a alergénios ambientais, poluição atmosférica, o tipo de vida de países mais desenvolvidos são alguns exemplos. Autores internacionais demonstraram que crianças nascidas em ambientes rurais e que, por isso, possam ter contacto com animais de quinta têm menor probabilidade de desenvolver alergias.

Tratamento

O tratamento implica sempre um diagnóstico etiológico. Isto é, o tratamento é adaptado a cada caso dependendo, na maioria das vezes, da causa da rinite. Temos vários fármacos para controlo dos sintomas (como anti-histamínicos, corticoides tópicos).

No caso das rinites alérgicas, a terapêutica é também considerada caso a caso, e os doentes podem ser tratados com imunoterapia específica: por exemplo, se tem uma alergia a pólenes de gramíneas, a vacina é dirigida a essa alergia. Este tratamento permite modular a capacidade que o sistema imunológico tem de tolerar a presença do alergénio causador dos sintomas.

Mas as prescrições de vacinas dependem de várias condicionantes, como o grau de gravidade, o tipo de alergénio envolvido, a capacidade do doente suportar o tratamento, dados os custos, pois as vacinas são dispendiosas e tratam-se de tratamentos prolongados no tempo.

Diagnóstico

Em primeiro lugar, a história clínica da pessoa é crucial. Para o diagnóstico das rinites alérgicas socorremo-nos de testes cutâneos (a serem executados pela especialidade de alergologia) e exames sanguíneos específicos que ajudam na tomada de decisão terapêutica.

Outros casos, como em situações de polipose ou suspeita da mesma, podem ser necessários outros exames e mesmo apoio da especialidade de otorrinolaringologia.

Perguntas frequentes

A rinite persistente tem cura?

Quando nos referimos a rinites persistentes de etiologia alérgica nunca se pode dizer que uma imunoterapia feita durante três anos vai curá-la. Melhora os sintomas durante muitos anos, o doente fica bem (é variável, de pessoa para pessoa), mas não se pode afirmar com toda a certeza que não possam regressar, refere Josefina Cernadas.

O que acontece, de facto, é que além de se reduzir francamente a necessidade de medicação, melhoramos a qualidade de vida dos pacientes, sendo este aspeto muito notório nos adultos, mas muito recompensador nas crianças que começam a dormir melhor, ficam menos agitadas, mais atentas nas aulas.

“Facto de extrema relevância nestes casos de rinites alérgicas é muito também a prevenção que faz na evolução da doença respiratória. Refiro-me particularmente na prevenção de evolução para asma”, explica a médica do Hospital Lusíadas Porto.

A minha dor de cabeça pode estar relacionada com uma rinite?

Muitas vezes, sim. Sobretudo quando o sintoma principal de rinite for a obstrução nasal. Se o nariz está tapado, a pessoa não respira normalmente e pode, ao fim de algum tempo, ter dores de cabeça.

Há uma tendência para as rinites surgirem com as mudanças de estação?

No caso das rinites alérgicas, as pessoas afirmam sentir-se pior no início e decorrer da primavera ou no outono/inverno. Isto deve-se aos alergénios, mais prevalentes em cada estação do ano. Mas também há quem fale em variações de temperatura, independentes da estação do ano. Nestes casos, o nariz reage de forma exagerada às diferenças marcadas e súbitas de temperatura.

Um cheiro intenso pode causar uma rinite?

Não se trata propriamente de causar uma rinite. Mas pode desencadear sintomas de rinite, tal como outros estímulos. Existem outros fatores ambientais, como uma pessoa não alérgica que trabalha numa sala com ar condicionado e está com uma rinite vírica, em que os sintomas são semelhantes aos da rinite alérgica.

Por que é tão comum as grávidas terem rinites?

A obstrução nasal na gravidez está relacionada com padrões de alteração hormonal ao longo da gravidez. É muito comum, passa após o parto e chama-se mesmo rinite da grávida.

E estando grávidas, que tipo de tratamento podem fazer?

Ter o cuidado de tomar sempre fármacos que não interfiram na gestação. Os tratamentos com anti-inflamatórios tópicos nasais específicos para esta situação são os mais indicados.

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Revisão Científica

Dra. Josefina Cernadas

Dra. Josefina Cernadas

Coordenador da Unidade de Imunoalergologia

Hospital Lusíadas Porto

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