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Como lidar com a agorafobia

Colaboração
Os ataques de pânico podem estar na origem desta doença, que chega a impedir as pessoas de saírem de casa. A terapia cognitivo-comportamental, a medicação e a meditação são respostas para minorar os sintomas.

A ideia vulgarizada de que quem tem agorafobia tem medo de espaços abertos está incorreta. Apesar de este ser um dos medos que pode caracterizar a agorafobia, este transtorno de ansiedade é mais complexo do que essa definição simples parece sugerir.

Quem tem agorafobia pode também ter medo de usar transportes públicos, de estar em lugares fechados, como um centro comercial, ou de estar à espera, na fila, no meio de uma multidão. A fobia não está restringida aos espaços abertos, mas está sem dúvida ligada aos espaços públicos.

O prefixo que compõe a palavra é o termo grego “agora”, que designava o espaço público central das cidades da Grécia Antiga, nobre por excelência, onde os cidadãos se encontravam. E é o espaço público que estas pessoas tentam evitar. “Nos casos graves, os doentes podem não conseguir sair de casa”, explica Ana Peixinho, médica psiquiatra e coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Lusíadas Lisboa.

Crises de pânico ou medo?

Há dois tipos de agorafobia. A primeira não está diretamente ligada ao ataque de pânico, é “apenas” o medo que uma pessoa tem de se encontrar numa situação exterior onde pode ser difícil ou embaraçoso fugir, se houver necessidade.

Esse medo, de que aconteça alguma coisa terrível que coloque a pessoa numa situação de perigo, é desproporcional em relação à situação real. Nestas ocasiões, as pessoas com agorafobia podem sentir falta de ar, tremores, tonturas, um aumento do batimento cardíaco, náusea, medo de morrer, etc.

E o fenómeno pode ser desencadeado em lugares tão diversos como um centro comercial, uma estação de metro ou uma praça cheia. Há também pessoas para quem a agorafobia surge como um desenvolvimento secundário da perturbação de pânico. “Os ataques de pânico tomam a forma de períodos súbitos de ansiedade intensa”, explica Ana Peixinho.

Os sintomas passam por desconforto ou dor no peito, palpitações, suores, dificuldade em respirar, sensação de tontura ou vertigem e formigueiros no corpo. “A maior parte ocorre espontaneamente, mas os ataques podem também ser provocados por emoções fortes, excitação ou exercício físico.

A ansiedade é acompanhada por uma sensação de catástrofe iminente ou por um pressentimento de que um acontecimento terrível está prestes a acontecer. O doente teme perder o controlo, ter um problema grave de saúde ou enlouquecer.” Uma das consequências destes ataques de pânico pode ser a tentativa de evitar situações em que eles ocorram.

Este comportamento pode levar à agorafobia. “A maior parte dos doentes desenvolve agorafobia, que resulta num desejo obrigatório em evitar o estímulo [que pode provocar o ataque de pânico]”, refere Ana Peixinho.

“Estes ataques normalmente ocorrem inesperadamente, ao contrário do que acontece nas fobias que são provocadas pela exposição a estímulos específicos.” Por isso, qualquer saída de casa pode “ser perigosa” para a pessoa.

Causas e tratamentos da agorafobia

O número de pessoas com agorafobia não associada à perturbação de pânico é cerca de 1% na população adulta, em geral. Tal como as outras perturbações de ansiedade, as causas da agorafobia são desconhecidas.

Os especialistas sugerem que é provável que envolvam uma combinação de fatores incluindo a genética, o ambiente, a situação psicológica e o desenvolvimento de cada pessoa. As perturbações de ansiedade podem surgir em vários elementos de uma família, o que pode indicar a existência de uma conjugação da genética e do stresse ambiental.

Para se ter o diagnóstico de agorafobia é necessário que o medo seja de duas ou mais das seguintes situações:

  • Usar os transportes públicos;
  • Estar em lugares abertos;
  • Estar em lugares públicos fechados;
  • Estar numa fila no meio de uma multidão;
  • Estar fora de casa, sozinho.

Além disso, o doente tem de viver com esta situação há pelo menos seis meses e ter dificuldade em gerir o seu dia a dia, dependendo muitas vezes de alguém próximo (um familiar ou amigo) para conseguir sair de casa. Para tratar a agorafobia, a primeira coisa a fazer é consultar o médico de família para verificar se não há nenhum problema físico que esteja a originar os sintomas.

Se houver um diagnóstico de agorafobia, o passo seguinte é, muitas vezes, uma combinação de psicoterapia e medicação. A terapia cognitivo-comportamental passa por sessões de conversa que podem ajudar os pacientes a pensar, reagir e a comportar-se de outra forma em relação às situações que originam o medo. Isto permite que se sintam menos ansiosos quando têm que sair de casa.

Em termos de medicação, são usados antidepressivos e ansiolíticos que ajudam a minorar os sintomas. Além disso, métodos como a meditação e os grupos de apoio podem permitir enfrentar melhor esta fobia.

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Dra. Ana Peixinho

Dra. Ana Peixinho

Coordenador da Unidade de Neuropsicologia , Psicologia , Psiquiatria

Hospital Lusíadas Lisboa

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