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Os desodorizantes podem causar cancro da mama?

Usados para evitar o cheiro que se liberta das axilas, os desodorizantes têm compostos artificiais que são alvo de rumores sobre os seus efeitos na saúde humana.

No século passado, o uso do desodorizante generalizou-se para evitar o cheiro que se liberta das axilas. A atividade das bactérias existentes na pele, que degradam compostos libertados no suor, causa a produção de substâncias que estão na origem do mau cheiro das axilas.

Os desodorizantes são uma forma de resolver essa situação, mas há rumores de que estes produtos de higiene contêm substâncias que penetram no corpo e contribuem para o surgimento do cancro da mama, principalmente nas mulheres. Mas será que a ciência já comprovou esta ameaça?

Duas formas de impedir o cheiro

Os possíveis efeitos dos desodorizantes estão ligados ao seu modo de atuar: antes de tudo, é necessário ter em conta que, muitas vezes, chama-se de desodorizante o que é, na realidade, um antitranspirante. Apesar dos dois produtos de higiene terem como objetivo impedir a produção de odores nas axilas, eles funcionam de modo diferente.

Enquanto os desodorizantes bloqueiam estes odores com substâncias (muitas vezes à base de álcool), os antitranspirantes bloqueiam os canais das glândulas sudoríparas, por onde se liberta o suor. Dessa forma, as bactérias deixam de ter a matéria-prima para produzir as moléculas que estão na origem dos maus odores.

Parabenos e sais de alumínio

As duas classes de substâncias que já foram alvo de estudos para identificar possíveis ligações com o cancro da mama são os parabenos e os sais de alumínio. Os primeiros são uma classe de conservantes usados em vários produtos de higiene, incluindo certos desodorizantes e antitranspirantes, e que podem ser absorvidos pela pele.

Segundo a Sociedade Americana do Cancro (SAC), os parabenos têm propriedades semelhantes ao estrogénio – uma das hormonas femininas – embora o seu efeito seja muito mais limitado do que a hormona feminina. O estrogénio causa o crescimento e a divisão das células das glândulas mamárias.

Em algumas condições o corpo fica mais sensível ao estrogénio, e há uma ligação entre esta sensibilidade e o aumento do risco de cancro da mama. Já se encontraram vestígios de parabenos em tecido tumoral da mama. Mas a SAC argumenta que esta descoberta, feita em 2004, não concluiu nenhuma ligação entre os dois fenómenos: a presença de parabenos e o desenvolvimento do cancro.

Por outro lado, o estrogénio produzido pelo corpo é centenas a milhares de vezes mais forte do que os parabenos. Além disso, os parabenos existem em muitos produtos, não ficando provado que os vestígios encontrados nos tumores eram provenientes dos desodorizantes.

De qualquer forma, a maioria dos desodorizantes e dos antitranspirantes deixaram de usar os parabenos. Em relação aos sais de alumínio, a questão também é complexa. Os sais de alumínio englobam várias moléculas como o cloreto de alumínio e o clorohidrato de alumínio, entre outros, que são os compostos cativos dos antitranspirantes.

Estes compostos alteram a fisiologia do corpo ao impedir a transpiração de se libertar das axilas por bloquearem os canais. Segundo a SAC, há cientistas que sugerem que estes compostos podem ser absorvidos pelo corpo, causando mudanças nos recetores do estrogénio das células das glândulas mamárias e aumentando o risco de cancro neste tecido. Mas a organização cita alguns trabalhos científicos que não corroboram esta ideia.

Por um lado, um estudo mostrou que apenas uma pequena fração de alumínio é absorvida pela pele, há muito mais alumínio a ser absorvido na alimentação. Por outro, a quantidade de alumínio encontrado nos tecidos cancerosos é semelhante ao resto dos tecidos mamários. Tudo isto põe em causa a ideia do tecido mamário estar suscetível a desenvolver o cancro por causa da proximidade geográfica com a axila, onde se aplica o desodorizante.

Experiência em roedores

Para complicar a questão, em 2016, um estudo de uma equipa de investigadores da Suíça mostrou que o cloreto de alumínio, quando injetado em roedores com o sistema imunitário ineficaz, provoca cancros no tecido mamário. No entanto, os roedores com o sistema imunitário normal, não desenvolveram tumores.

Uma das tarefas do sistema imunitário é, justamente, controlar e matar as células que estão no processo de se tornarem cancerosas. Para alguns especialistas, o resultado da experiência diz pouco sobre a situação real nos humanos, que têm células diferentes dos roedores e, regra geral, têm o sistema imunitário ativo.

Em suma

Nada provou até agora que os desodorizantes e os antitranspirantes provocam cancro da mama. Os médicos não veem motivo para desaconselhar o uso normal destes produtos higiénicos.

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