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Podologia: cuidados com os pés das crianças

Revisão Científica
Frágeis e maleáveis, os pés das crianças exigem atenção redobrada – sob pena de virem a desenvolver problemas para toda a vida. Carla Ferreira, podologista do Hospital Lusíadas Porto, explica quando consultar um especialista para o seu filho e que cuidados deve ter.

Com 20 músculos e 26 ossos, os pés são os alicerces do corpo e a base que permite ao ser humano caminhar. É, por isso, essencial que o seu desenvolvimento decorra de forma harmoniosa, para evitar patologias e deformações que se poderão manter até à idade adulta – com impacto em toda a estrutura do corpo.

Os primeiros anos da criança são essenciais para estes cuidados: este é o período de desenvolvimento dos pés e, também, da sua maior vulnerabilidade.

Como realça Carla Ferreira, podologista do Hospital Lusíadas Porto, “os pés das crianças não são pés adultos em miniatura e, até atingirem o desenvolvimento completo, o caminho é longo”.  Por isso, esteja atento aos pés dos seus filhos.

Fases de desenvolvimento do pé

  • Às 8 semanas de gravidez:

Os pés do feto começam a desenvolver-se.

  • Até aos 5 anos:

Esta é a fase de maior desenvolvimento. Nas meninas, o crescimento médio é de dois milímetros/mês, enquanto nos meninos é de 1 milímetro/mês.

  • Dos 5 anos à adolescência:

Nesta fase, o desenvolvimento dos pés é menos acentuado. O crescimento estabiliza aos 12 anos nas raparigas e aos 15 anos nos rapazes, quando os pés atingem o tamanho adulto. Existem, contudo, exceções à regra.

Que cuidados devem ter os pais com os pés das crianças?

Os bebés não devem usar sapatos até começarem a andar, dado que o calçado “limita os movimentos dos pés e dos dedos”, começa por recomendar Carla Ferreira. Depois de o seu filho começar a andar, a escolha de um calçado adequado é essencial para proteger os pés e assegurar o seu desenvolvimento natural. Siga estas indicações:

  • Escolha sapatos em pele, com contrafortes rígidos;
  • As solas devem ser maleáveis, para não prejudicarem os movimentos dos pés;
  • Os sapatos devem ficar abaixo dos tornozelos;
  • Nos modelos com atacadores, garanta que estes estão bem apertados;
  • Mude os sapatos da criança todos os dias.

Sempre que possível, no entanto, deixe o seu filho andar descalço (sem sapatos e sem meias). Estes momentos são importantes para “estimular o sistema muscular e nervoso, assim como o cérebro da criança”, destaca a podologista.

Atenção ao peso: o excesso de peso nas crianças cria uma pressão adicional nas pernas e nos pés. Esta é uma causa frequente de diversas patologias e “falsos” pés planos (em que o abatimento do arco plantar é causado pelo peso excessivo).

Quando deve consultar um podologista?

A prevenção é o melhor remédio contra patologias nos pés das crianças. A consulta com um podologista permite diagnosticar, atempadamente, problemas no desenvolvimento do pé infantil, para que não deixem sequelas na vida adulta. Segundo Carla Ferreira, é recomendada uma primeira ida ao podologista cerca de ano e meio após a criança começar a andar.

Na consulta, o especialista avalia o desenvolvimento dos pés, assim como o nível de apoio em situação estática e de marcha. É ainda aconselhável uma consulta anual de rotina, para acompanhar o desenvolvimento do pé.

Que doenças podem afetar o desenvolvimento dos pés das crianças?

Existem diversas patologias associadas ao desenvolvimento incorreto dos pés das crianças. Tome nota das mais frequentes:

  • Pés valgos– diminuição do arco interno do pé e desvio interno dos calcanhares;
  • Retropé valgo– alteração da estrutura óssea da zona do calcanhar, com a parte exterior mais elevada do que a interna;
  • Pés aductos– caminhada com os pés para dentro;
  • Joelhos em valgo– joelhos para dentro (próximos um do outro), enquanto os pés se afastam (forma de X)
  • Dedos em infradução ou supradução– sobreposição dos dedos dos pés;
  • Pés planos (também chamados de pés rasos ou pés “chatos”)– caracteriza-se pela ausência de curvatura na planta do pé, com consequências na marcha (e maior esforço sobre outras articulações dos membros inferiores);
  • Dores de crescimento – sem uma causa conhecida, mas mais frequentes em adolescentes e associadas à prática de desporto;
  • Verrugas;
  • Onicocriptose (unhas encravadas);
  • Dismetria– diferença de tamanho entre as pernas (uma perna maior do que a outra), com um quadro de maior gravidade quanto maior for a disparidade de comprimento;
  • Escoliosedeformação lateral da coluna lateral;
  • Anteversão femoral– rotação do fémur para dentro, com consequências no alinhamento da perna e do pé.

É preciso, no entanto, ter em conta a idade da criança antes de fazer soar o alarme. “Ao longo dos anos, os pés e as pernas vão sofrendo alterações consideradas normais”, adianta a especialista do Hospital Lusíadas Porto, pelo que é sempre necessário avaliar se os valores se integram nos parâmetros médios da idade.

Por exemplo, “é normal que uma criança com três anos tenha um pé ‘chato’, uma vez que ainda não há formação de arco interno; enquanto que numa criança de dois anos as pernas arqueadas se devem ao uso de fraldas”, explica a podologista.

Tratamento recomendado

Lembra-se das botas ortopédicas, tão comuns há algumas décadas – e que eram o “pesadelo” das crianças pelo desconforto e calor que provocavam? Como sublinha a especialista Carla Ferreira, este tipo de tratamento é hoje visto como um “método rudimentar”, que já “está ultrapassado”.

Atualmente, os tratamentos são conservadores para patologias associadas ao desenvolvimento do pé, durante a fase de crescimento. O que significa que, na maioria dos casos, o ideal é a criança usar uma ortótese plantar (palmilhas), com um ajuste personalizado ao pé.

Estas ortóteses devem ser feitas por um podologista, para que o apoio seja o mais correto possível para o seu filho. Em certos casos, as palmilhas não necessitam de ser alteradas quando o número de calçado aumenta. Consulte um especialista e siga as orientações dadas.

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Dra. Carla Ferreira

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