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Esteja atento à otite

Revisão Científica
A otite é muito frequente em crianças até aos cinco anos. As infeções surgem quase sempre na sequência de uma constipação e podem afetar a capacidade auditiva e o desenvolvimento da linguagem.

As constipações são, frequentemente, o ponto de partida para dores de ouvido muito incómodas, que provocam o choro persistente do bebé e por vezes alguns episódios de febre. É sinal de que a infeção está instalada, já que a criança não sabe expelir as secreções pelo nariz, que as aspira para o ouvido: "Cerca de 95% das crianças até aos cinco anos tem pelo menos um episódio de otite média aguda", constata António Sousa Vieira, coordenador da Unidade de Otorrinolaringologia do Hospital Lusíadas Porto.

Para este índice de prevalência tão elevado contribui decisivamente a constituição anatómica do aparelho respiratório superior das crianças nos primeiros anos de vida, em que o posicionamento da Trompa de Eustáquio favorece a receção de todas as secreções não expelidas pela boca ou pelo nariz.

São também particularmente vulneráveis as crianças com problemas nasais associados, com dificuldade respiratória noturna, respiração pela boca, secreção nasal persistente e rinite, entre outros. "E se a criança sofre uma otite, faz a terapêutica antibiótica e logo a seguir volta a fazer infeção, é ainda a mesma otite", esclarece Sousa Vieira.

Até aos três anos, o sistema imunológico das crianças não tem maturidade para responder eficazmente a estas ameaças, informa o especialista, pelo que o facto de a criança frequentar o infantário antes dos três anos contribui ainda mais para a incidência da doença, já que estará em contacto com outras crianças expostas ao mesmo risco, ampliando a probabilidade de contágio.

Mas explica também Sousa Vieira que "a ocorrência de uma otite, por si só, não tem significado especial, mas a repetição, essa sim, deve preocupar e alertar os pais".

Os riscos das piscinas

Frequentar piscinas em tenra idade pode também aumentar o risco de otites nos bebés e crianças. "Os desinfetantes usados na água são nocivos para a mucosa nasal, enquanto a humidade e as mudanças de temperatura contribuem fortemente para agravar o risco de otite", adverte Sousa Vieira.

A reincidência das otites e a presença persistente de líquido no ouvido podem acabar por afetar a audição da criança. O problema nem sempre é detetado precocemente, porque a criança parece simplesmente distraída, não reagindo a sons de baixa intensidade. "Mas ignorar esta situação pode ter consequências no desenvolvimento da criança, nomeadamente ao nível da linguagem", alerta o otorrinolaringologista.

Ainda assim, na maior parte dos casos, estes episódio de surdez são reversíveis e só alguns casos mais pontuais de otites recorrentes chegam a requerer uma intervenção cirúrgica. Já nos adultos, a incidência da otite tem vindo a diminuir à medida que a ciência tem avançado, com a introdução de tratamentos muito eficazes.

Os adultos têm ainda a seu favor o posicionamento inclinado das ligações internas entre o nariz e o ouvido a partir dos 5 anos e também a sua própria capacidade de se assoarem, expelindo as secreções.

Possíveis sintomas da otite

  • Dor aguda (por vezes só visível no choro compulsivo do bebé);
  • Irritabilidade;
  • Febre;
  • Antecedentes de constipação, com presença de secreções no nariz e garganta.

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Dr. António Sousa Vieira

Dr. António Sousa Vieira

Coordenador da Unidade de Otorrinolaringologia

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