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Adolescentes: um desafio!

Hugo Tavares, pediatra no Hospital Lusíadas Porto e coordenador do Centro Multidisciplinar do Adolescente, fala sobre os desafios que se colocam na educação de um adolescente.

O pediatra Hugo Tavares, coordenador do Centro Multidisciplinar do Adolescente do Hospital Lusíadas Porto, afirma que, na maioria dos casos, a adolescência não é uma fase difícil. Mas os problemas existem e se não forem abordados e resolvidos precocemente podem resultar em sérias consequências futuras.

Esta é uma fase difícil na relação entre pais e filhos?

A adolescência é um grande desafio para o adolescente e para os pais. O adolescente tem que viver com um corpo em constante mudança, que precisa de aprender a conhecer e a aceitar. Tem também de se tornar um adulto autónomo, independente da figura parental, um processo nem sempre pacífico.

Para alguns pais é difícil perceber e aceitar as mudanças que os filhos estão a passar. Aceitar que os filhos estão a crescer e a ganhar forma e ideias de adulto é perceber que eles próprios estão a envelhecer. E ninguém gosta de envelhecer.

Como lidar com o grupo de amigos e os comportamentos de risco?

Uma das principais tarefas dos adolescentes é o autoconhecimento e a definição da sua identidade pessoal. Vendo-se forçados a quebrar com o vínculo parental, encontram nos seus amigos o modelo a seguir. Fruto da sua vontade de se integrarem são muitas vezes confrontados com questões que envolvem decisões chave: "por que não experimentas (álcool/tabaco/drogas)?", "vamos todos faltar às aulas?", "és o(a) único(a) que ainda não teve relações sexuais!".

A sua vontade de conhecer e experimentar coisas novas e ainda ausência da capacidade de prever consequências dos seus atos (competência que só surge numa fase mais tardia da adolescência num processo reconhecido de maturação cerebral) aumentam a vulnerabilidade dos adolescentes a comportamentos de experimentação.

Como falar, então, de questões como a droga e o início da atividade sexual?

Com naturalidade. O ideal é que estas questões sejam abordadas antes da adolescência e se aproveitem as oportunidades quando elas surgem: a ver televisão, a propósito de um caso conhecido ou de uma leitura ou trabalho escolar, numa viagem de automóvel...

A melhor forma de garantir que o adolescente iniciará a atividade sexual na "altura certa" é trabalhar a sua autoestima, a sua resiliência, e mostrar disponibilidade para discutir o tema sem tabus (respeitando a privacidade e o tempo do adolescente). Falar sobre comportamentos de risco não aumenta a probabilidade da sua ocorrência.

Está provado que treinar com um adolescente a resposta a dar quando é confrontado com uma situação dessas aumenta a probabilidade de dar uma resposta adequada.

Como sei se sou demasiado liberal ou demasiado castrador?

Os pais devem sentir-se bem com as decisões que tomam, mesmo as difíceis. Estas últimas custam mas, se sentirem que com um 'não' estão a ajudar o adolescente, mesmo que à custa de algum sofrimento mútuo, é porque essa é a decisão correta. O melhor modelo parental não é o liberal nem o castrador.

Algo ali no meio que inclua empatia, compreensão, respeito mas também firmeza. Autoridade e não autoritarismo. Não esquecer que no vosso relacionamento o amor e os afetos devem estar sempre presentes! E ser capaz de gerar e partilhar emoções é o melhor exemplo de humanismo que pode oferecer ao seu filho.

É preciso não esquecer que…
Apesar da sua "luta pela independência", os adolescentes precisam (e gostam) de ter pais firmes mas também permeáveis às suas opiniões (na medida direta em que as mesmas se tornam cada vez mais pertinentes).

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