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Anorexia e bulimia: o papel do nutricionista

O tratamento da anorexia e da bulimia implica a recuperação de peso de pacientes que evitam a todo o custo engordar. Esta é uma mudança de comportamento difícil e em que o nutricionista pode ajudar.

Os transtornos de comportamento alimentar como a anorexia e a bulimia exigem uma abordagem multidisciplinar. O processo de reeducação alimentar é vital no tratamento da anorexia e/ou bulimia, mas também complexo e moroso. Luísa Trindade, nutricionista do Hospital Lusíadas Porto, explica como se caracterizam estes distúrbios alimentares, a que sinais a família deve estar atenta e a importância de consultar um nutricionista.

Anorexia e bulimia: o que são

O controlo rígido e obsessivo da ingestão de alimentos evolui para a falta de apetite real que caracteriza a anorexia. No caso da bulimia, há um comportamento compulsivo de consumo desenfreado seguido de vómito provocado.

Mas os dois distúrbios alimentares podem surgir associados e têm muito em comum. Além dos aspetos psicológicos da exacerbada preocupação com o peso, baixa autoestima e distorção da imagem corporal, a anorexia e a bulimia resultam numa dieta perigosa e insuficiente a nível nutricional.

Fatores de risco

A anorexia afeta sobretudo raparigas (95%), a baixa autoestima é uma caraterística transversal e sabe-se também que a maioria são jovens com um elevado rendimento escolar, muito organizadas, exigentes consigo próprias e com alguns traços de comportamento obsessivo.

Vários estudos permitem traçar o perfil de risco, mas há que não desprezar os fatores externos que levam ao desenvolvimento de transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia. Além da pressão familiar, escolar e social que recai sobre a imagem e dos ditames da moda, há uma questão importante, que quase nunca é falada: a exigência do controlo de peso no mundo da alta competição. 

Luísa Trindade sublinha tratar-se de um problema grave, que se verifica sobretudo nas atividades que se relacionam com movimentos de elevação do próprio corpo. “A patinagem, o ballet e ginástica têm regras muito rígidas na alta competição, sem qualquer acompanhamento de compensação nutricional”, alerta a especialista.

Riscos para a saúde

Nas raparigas, a perda da menstruação é um dos primeiros sinais de que o peso desceu a um nível perigoso, com graves implicações no desenvolvimento hormonal.

Mas a carência de nutrientes pode também conduzir a anemias graves, osteoporose precoce, e níveis muito baixos de fósforo e de potássio, capazes de desencadear falência cardíaca ou respiratória. A anorexia nervosa é o transtorno psiquiátrico com maior risco de morte.

Sinais a que a família deve estar atenta

Existem comportamentos que, segundo Luísa Trindade, estão quase sempre presentes. Se a família ou amigos detetar alguns estes sinais, é essencial incentivar a/o jovem a procurar um nutricionista ou acompanhá-lo à consulta.

  • Perda de peso “involuntária”;
  • Hábitos como o de espalhar comida no prato, para fingir que está quase vazio;
  • Sinais de isolamento social e recusa de programas que impliquem “ficar à mesa”;
  • Insistência em usar roupas mais largas do que o normal e muito leves, mesmo quando está frio (para acelerar a termogenia, obrigando o organismo a queimar mais calorias).

Para que serve a consulta de Nutrição?

O tratamento envolve a recuperação de peso de pacientes que sofrem com o pesadelo de poder vir a engordar. Ou seja, implica uma mudança de comportamentos que se revela difícil, mesmo quando já existe acompanhamento psicológico e um médico a alertar para o facto de a saúde estar em risco. 

“A abordagem multidisciplinar devia ser obrigatória”, defende Luísa Trindade, nutricionista do Centro Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade e do Adolescente do Hospital Lusíadas Porto. O papel do nutricionista é o de garantir uma evolução positiva com efeitos de longo prazo, a chamada reeducação alimentar.

Criar um plano nutricional

Na consulta, definem-se objetivos e traça-se uma estratégia, que pode passar por ganhar meio quilo por semana ou começar pelos 100 gramas. “Não existe uma abordagem única e é preciso garantir uma relação de confiança com o paciente”, explica a médica. O tratamento pode demorar muitos meses.

Implica a reintrodução progressiva de alimentos, a começar pelos mais simples, como o arroz ou a massa, considerados proibidos por conterem hidratos de carbono ou um valor calórico que os pacientes consideram excessivo. A adesão do paciente difere e há que ter em conta a idade.

Os 14 anos são a média estatística, mas a especialista lembra que “a anorexia pode começar aos nove ou dez anos e surgir até aos 20 ou 22”, sublinhando que “isso não quer dizer que uma pessoa na casa dos 30 ou 40 não possa também desenvolver um distúrbio alimentar”.

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